sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

-Bruxaria, Maçonaria e Mitras

Livro: "Enciclopédia de Wicca e Bruxaria"
Autor: Raven Grimassi

Franco-Maçonaria

"A Franco-Maçonaria é considerada por muitos como a mais ampla sociedade secreta no mundo hoje. Muitos estudiosos modernos acreditam que as Tradições de Bruxaria contemporâneas (como a Tradição Gardneriana) têm base direta nos elementos rituais Maçons adotados tanto no século dezenove quanto no século vinte. Os estudiosos modernos apontam para a inclusão disso como um sistema de iniciação de três graus e o “beijo quíntuplo” como apoio evidente a sua alegação. Tais conceitos, entretanto, datam de muito antes em fontes não Maçônicas. Doreen Valiente, na introdução de seu livro "Witchcraft for Tomorrow", afirma que os dois Maçons (Hargrave Jennings e W.J. Hughan) começaram a procurar no meio do século dezenove pela "verificação pessoal de que os criadores da Arte Maçônica e os Criadores Rosacruzes eram irmãos na Antiga Religião." Valiente afirma que como resultado, estes Maçons tiveram um relacionamento íntimo com George Pickingill (o Bruxo de Canewdon) a partir de 1850 em diante. Ela registra que Pickingill, um não-Maçon, impressionou Hargrave e Hughan ao "expor os segredos internos da Maçonaria". Isto conduziu o grupo a conceber que a Bruxaria possa ter possuído algum conhecimento misterioso e secreto relacionado à Maçonaria. Com a finalidade de entender os paralelos que existem entre a Franco-Maçonaria e a Bruxaria Moderna, devemos nos voltar tanto a mítica histórica quanto a história da Maçonaria. Albert Mackey (1807-1881) foi um Maçom que serviu como um magnífico Alto Sacerdote da Grande Assembleia, Grão Mestre do Grande Conselho e Grão Mestre Alto Sacerdote da Grande Assembleia Geral dos Estados Unidos. Nas últimas décadas de sua vida, Mackey serviu como secretário geral do Conselho Supremo do Trigésimo Terceiro Grau. Durante sua vida foi autor de treze livros a respeito da Franco-Maçonaria. Em seu último trabalho, intitulado "The History of Freemansonry", Mackey explora muitas das várias e diferentes lendas referentes às origens da Franco-Maçonaria. Seu capítulo intitulado "Franco-Maçonaria e os Mistérios Antigos", é de particular interesse quando se compara elementos da Franco-Maçonaria com a Bruxaria Moderna. Mackey examina a teoria (uma de muitas) de que as origens da Franco-Maçonaria como uma sociedade secreta são arraigadas em uma antiga Tradição de culto de Mistérios Pagãos. Ele afirma que o fundamento desta teoria "deriva da parte mais importante do seu ritual e a lenda de seu terceiro grau de iniciação praticado nestas organizações religiosas". Os paralelos descritos por Mackey são:

1. A preparação do iniciado através de um banho e uma limpeza que era tanto física quanto simbólica. [algo que também há na Bruxaria.]
2. A iniciação, que passa o iniciado através dos Graus Menores e Maiores. Mackey compara isto com o que ocorre com a Franco-Maçonaria com relação ao Membro da Arte e ao Grau de Mestre. 
3. A prefeição, que transmite o "verdadeiro dogma" ou o "Grande Segredo" simbolizada pelo próprio rito de iniciação. Mackey afirma que isto é idêntico na Franco-Maçonaria.
4. O segredo natural tanto da Franco-Maçonaria quanto da Tradição de Mistérios Pagã.
5. O uso de símbolos.
6. A forma em drama da iniciação.
7. A divisão de ambos os sistemas em graus ou passos.
8. A adoção dos métodos e reconhecimentos secretos de ambos. [A Bruxaria também tem "Aperto de Mão" e Senhas e Contra-senhas que os novatos desconhecem.]


Mackey faz uma pergunta interessante em seu capítulo:

"A Franco-Maçonaria moderna é linear e de sucessão ininterrupta desde os Mistérios antigos, sendo a sucessão transmitida através das iniciações Mitraicas (referentes a Mitras) que existiam nos séculos cinco e seis; ou é o fato das analogias entre os dois sistemas que são atribuídos a coincidência do processo natural do pensamento humano, comum a todas as mentes e mostrando o seu desenvolvimento nas formas simbólicas?" 

A associação da experiência humana e o resultado da própria expressão humana é um elemento importante a ser considerado quando comparamos os sistemas de crenças. O próprio Mackey registra que a única "diferença importante" entre os vários cultos de Mistérios criados pela humanidade era nas figuras em particular/especial dos Deuses e herois, a não ser por isso "o material aponta que o enredo e o projeto religioso do drama sagrado eram idênticos". Mackey continua a afirmar que as formas e representações da alegoria empregadas pelas várias Escolas de mistérios da Grécia, Samotrácia, Egito e Pérsia eram "preservadas em todos os lugares". Mackey registra que os Mistérios eram divididos em duas classes chamados de Mistérios Maiores e Mistérios Menores. Ele comenta sobre o estágio de preparação na antiga Tradição de Mistérios e conclui: "Sendo assim, havia no processo de recepção um sistema de três passos, nos quais aqueles que apreciam traçar analogias entre as iniciações antigas e modernas sejam propensos a chamá-los de graus." É interessante observar aqui a referência a antiguidade do conceito dos "três níveis/graus". Isto é algo comum para a maioria das Tradições atuais da Bruxaria Moderna. [Como vemos em Lois Bourne, a diferença é que, na Bruxaria Gardneriana, o sistema de graus é Primeiro, Segundo e Terceiro, e, na Bruxaria Tradicional, Terceiro, Segundo e Primeiro.]. 
No encerramento de seu capítulo, Mackey afirma que a "forma e a característica" de certos rituais Maçônicos como os Rito do terceiro grau eram derivados da "lenda funeral" das antigas iniciações. Na Franco-Maçonaria este tema é estilizado para incorporar a história mítica ralacionada com Hiram Abiff, o chefe dos trabalhadores que construíam o templo do Rei Salomão. Este truque servia para alinhar a Franco-Maçonaria com as raízes Judaicas a fim de estabelecer a paz com os Cristãos no que diz respeito ao Paganismo. Em essência, no entanto, a "lenda funeral" é o tema clássico da descida ao Submundo e o retorno deste local. É um tema relativo que reside em tais Tradições de Mistérios como o culto dos Mistérios Eleusinos da antiga Grécia, que focalizava a Deusa no Submundo e o seu retorno do Reino dos Mortos. Em muitas Tradições de Bruxaria Moderna o mesmo tema essencial pode ser encontrado dentro de um tema ritual. Mais uma vez, estamos olhando para uma fonte comum pré-datando o encontro de um grupo de Bruxas com a franco-Maçonaria. 


Em 1924, um Maçom chamado W. Ravenscroft publicou um livro intitulado "The Comacines". Este livro tratava da concepção das origens da Franco-Maçonaria que residem no antigo Conselho Romano dos Artífices, cuja existência é confirmada em uma carta que se refere ao "conselho dos trabalhadores" escrito ["a carta foi escrito". Concordância perfeita.por Plínio ao Imperador Trajano no final do primeiro século. Com relação aos tópicos sobre as origens da Franco-Maçonaria Ravenscroft escreve: "Alguns associaram-na com o ensino de Euclides... alguns com o culto de Mitras como era praticado em Roma e desta forma, voltando aos primórdios da antiga veneração solar Persa. Outros dizem que foi uma consequência dos Mistérios Gregos; outros, ainda, que ela foi ensinada pelos Essênios... e que eles descendem dos arquitetos do Templo de Jerusalém; outros mais uma vez, acham que ela foi trazida à Inglaterra pelos Culdess (monges originários da Irlanda e da Escócia)... e eram associados com o Conselho Romano...". Sabe-se que os soldados romanos na metade do Império pertenciam ao culto de Mitras. Um exemplo é a Segunda legião Adiutrix (cerca de 69 E.C.), o qual servia na Bretanha e Anquincum no Danúbio. Também existe um pouco de especulação que a Primeira legião Itálica e a Nona legião Cláudia possam ter espalhado elementos dos Mistérios de Mitras por todas as províncias do Danúbio. É então relativamente seguro presumir que os elementos da filosofia Mitraica eram introduzidos nas terras conquistadas e guardadas pelas legiões de Roma. A veneração e o sacrifício do touro estão no centro do culto de Mitra, o qual era essencialmente uma religião de orientação solar. Em ambas as observações há uma forte conexão neste ponto com as crenças e práticas dos Druidas nas Ilhas Britânicas. A despeito do ódio dos Romanos pelos Druidas, também era bem provável que vários elementos do Culto de Mitra fossem convincentemente ignorados pelos os Druidas. No capítulo seguinte vamos explorar a conexão entre o touro e o Deus cornífero da Bruxaria. 

Dentro do Culto de Mitras existia o que se referia como as cenas de investidura, que retratavam as imagens rituais associadas com o simbolismo do culto que ostenta uma impressionante semelhança relativa aos elementos rituais dentro da Franco-Maçonaria. No livro "The Origins of the Mithtraic Mysteries", por David Ulansey, as ilustrações contendo imagens, símbolos e instrumentos dentro do Culto de Mitras são similares no estilo daquelas da Franco-Maçonaria, conforme aparecem no livro "Duncan's Ritual of Freemansonry"Também é interessante comparar os "Cinco Pontos da Sociedade" na Franco-Maçonaria (pés, joelhos, peito, costas, cabeça) com a estátua Órfica de Mitras na qual a divindade é dividida em Cinco Segmentos por uma Serpente Enrolada ao redor de seus Pés, Joelhos, Peito, Costas e Cabeça. [Na Bruxaria também têm "Five Points of Fellowship", mas são os genitais, e não as costas] Ulansey comenta que o simbolismo empregado no Culto de Mitras indica o poder de Mitras para encerrar um ciclo cósmico [o Taurobóleo mitraíco deveria ser repetido a cada vinte anos: Eis um ciclo] e começar um novo para que ele possa controlar a estrutura fundamental do universo. Esta não é a imagem do mestre construtor de si mesmo, o mais grandioso dos Franco-Maçons? Conforme observado no livro "The Cults of the Roman Empire", por Robert Turcan, os instrumentos simbólicos dos Mistérios de Mitras eram o Bastão de comando, a Taça de libação e a Faca em forma de crescente. O pantáculo não parece estar presente como tal, embora exista um uso extensivo de uma "tigela" não retratada nos registros. Um outro instrumento mencionado para uso ritual é a Espada, e o Açoite solar. [Eis os principais instrumentos da velha Bruxaria, que antecedem a criação da Maçonaria.] Os principais rituais dos Mistérios de Mitras eram centralizados em torno de uma refeição sagrada [assim como a Bruxaria têm seu Banquete Simples.]. Os Turcos registram que os Solstícios e Equinócios tinham grande importância dentro do Culto de Mitras. A Lua também é retratada nos Mistérios de Mitras como sendo associada com o mel, o touro e o sangue. Este uso ritual do Bastão, da Taça, da Espada e da tigela pré-datam a Franco-Maçonaria e a Bruxaria Gardneriana. O que estamos procurando aqui é a associação da experiência humana e não a exclusividade dos conceitos e elementos Maçônicos."