sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

-Os Ensinamentos de Parmenides

As éguas que me levam onde o coração pedisse conduziam-me, depois de me terem dirigido pelo caminho ilustre da Deusa, levando o Sábio por todas as províncias. Por aí me levaram, por aí mesmo me levaram as habilíssimas éguas, puxando o carro, enquanto as donzelas mostravam o caminho. O eixo silvava nos cubos como uma sirena, incandescendo, ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente o impeliam de um e de outro lado, quando se apressaram as donzelas filhas da Luz a levar-me, abandonando a região da Noite para a luz, libertando com as mãos os véus que a mente escondiam.

Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia, encimado por uma verga e uma soleira de pedra; o portal, etéreo, fechado por enormes batentes, dos quais a Justiça de muitas penas detém as chaves que os abrem e fecham. À Justiça se dirigiram as donzelas, com doces palavras, persuadindo-a habilmente a erguer para elas por um instante a barra do portal. E ele abriu-se, revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar, um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze, fixados com pregos a cavilhas. Por ali, atrás do portal, as donzelas guiaram com celeridade a carruagem e as éguas.

E a Deusa acolheu-me de bom coração, mão na mão direita tomando, e com estas palavras me dirigiu: “Ó jovem, acompanhante de estrelas imortais, tu, que chegas conduzido até nós pelas éguas, Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar por este caminho – tão fora do trilho dos mortais –, mas a Ordem Cósmica e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender: o coração inabalável na verdade autêntica e as crenças dos mortais, em que não há certeza genuína. Mas também isso aprenderás: como as aparências têm de aparentemente ser, transpassando todas através de tudo!”

Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os caminhos seguros de conhecimento que há para pensar: um que é, que não é para não ser, é caminho da verdade, pois acompanha a realidade; o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo. Pois, o mesmo é pensar e ser. 
Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente presente: pois não separarás o ser de sua continuidade com o ser, nem dispersando-o por toda a parte segundo a ordem do mundo, nem reunindo-o. Para mim é o mesmo por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.

É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam: pois podem ser, enquanto o nada não é: nisto te indico que reflitas. Desta primeira trilha de conhecimento te afasto, e logo também daquela em que os mortais, que nada sabem, vagueiam, com duas cabeças, pois a incapacidade lhes guia no peito a mente errante; e são levados, surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, aglomeração indecisa, que acredita que o ser e o não-ser são o mesmo e o não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.

Pois nunca isto será demonstrado: que são as coisas que não são; mas afasta desta trilha de conhecimento o pensamento, não te force por esse caminho o costume muito experimentado, deixando vaguear olhos que não veem, ouvidos soantes e língua, mas decide pela razão a provação tão disputada de que instrui. 
Só falta agora falar do caminho que é. Sobre esse são muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo.

Com efeito, que origem lhe conheceria? Como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável, visto que não é. E que necessidade o impeliria a nascer, depois ou antes, começando do nada? E, assim, é necessário que seja de todo, ou não. Nem a força da confiança consentirá que do não-ser nasça algo ao pé do ser. Por isso nem nascer, nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as prisões, mas sustém-nas: esta é a decisão acerca disso – é ou não é –; decidido está então, como necessidade, deixar uma das trilhas como impensável e inexprimível, pois não é trilha que conduz à verdade, enquanto a outra é a autêntica. Como poderia o ser perecer? Como poderia surgir-se? Pois, se era, não é, nem poderia vir a ser. E assim a origem se extingue e da destruição não se fala.

Nem é divisível, visto ser todo homogêneo, nem num lado é mais, que o impeça de ser contínuo, nem noutro menos, mas é todo cheio de ser e por isso todo contínuo, pois o ser é com o ser. Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços, sem princípio nem fim, pois origem e perecimento foram afastados para longe, repelidos pela certeza verdadeira. O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa, e assim firme em si fica. Pois a poderosa Ananke o tem nos limites dos laços, que de todo o lado o cercam. Pois não é justo que o ser seja incompleto: pois não é carente; ao não-ser, contudo, tudo lhe falta. O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de que há pensamento.

Pois, sem o ser – ao qual está prometido –, não acharás o pensar. Pois não é e não será outra coisa além do ser, visto o Destino o ter amarrado para ser inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes que os mortais instituíram, confiantes de que eram reais: “surgir-se” e “perecer-se”, “ser” e “não ser”, “mudar de lugar” e “mudar a cor brilhante”. Visto que tem um limite extremo, é completo por todos os lados, semelhante à massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio do centro a toda a parte; pois, nem maior, nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja. Pois nem o não-ser é, que o impeça de chegar até o mesmo, nem é possível que o ser seja maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável: pois é igual por todo o lado, e fica igualmente nos limites.

Nisso concluo a instrução autêntica e o pensamento em torno da verdade; depois disso as opiniões humanas aprende, escutando a ordem enganadora das minhas palavras. E estabeleceram duas formas, que nomearam, das quais uma não deviam nomear – e nisso erraram – e separaram os contrários como corpos e postaram sinais, separados uns dos outros: aqui a chama do fogo do Éter, branda, muito leve, em tudo a mesma consigo, mas não a mesma com a outra; e a outra também em si contrária, a Noite sem luz, espessa e pesada. Esta Ordem Cósmica eu te declaro toda plausível, de modo algum que nenhum conhecimento dos mortais te venha transviar.

Mas, uma vez que tudo é chamado Dia ou Noite e conforme a estas potências é dado a isto e aquilo, tudo é igualmente cheio de luz e de noite obscura, ambas iguais, visto cada uma delas ser como nada. E conhecerás a natureza do Éter e no próprio Éter de todos os sinais e dos raios da pura lâmpada do Sol a Arte destruidora, e de onde nasce, e conhecerás a Arte que roda em torno da Lua Cheia e a sua natureza, e saberás dos céus que os tem à volta, e de onde nasce, e como guiando-o a Ananke o obriga a conter os limites das estrelas. Como a terra e o sol e a lua e o éter que a tudo é comum e a Via Láctea e o Olimpo extremo e o calor ardente das estrelas forçadas a nascer.

Pois as coroas mais estreitas enchem-se de fogo sem mistura e as que vêm à Noite depois destas, mas com elas lança-se uma parte de chama. No meio delas está a Divindade que tudo governa; pois em tudo comanda o parto doloroso e a mistura, incitando a fêmea a unir-se ao macho, e ao contrário o macho à fêmea. Dos Deuses primeiro nasceu Eros. 
Facho da Noite, em torno a terra, clareando a uma desconhecida luz. Sempre ao domínio dos raios da Luz. Pois, tal como cada um tem mistura nos membros errantes, assim aos mortais chega o pensamento; pois o mesmo é o que nos mortais pensa, a natureza dos membros, em cada um e em todos; pois o mais pleno é o pensamento. 

À direita os machos, à esquerda as fêmeas. Quando o feminino e o masculino juntos misturam as sementes de Vênus, a força que se forma nas veias a partir de sangues diversos, mantendo o equilíbrio, gera corpos bem formados. Se, contudo, misturados os sêmens, as forças se opõem, e não fazem unidade, misturados no corpo, cruéis, atormentam o sexo da criança com o duplo sêmen. Assim, segundo a instrução, as coisas nasceram e agora são e depois crescerão e hão de ter fim; a essas os mortais puseram um nome que a cada uma distingue”.


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Ao benemérito St. Prior J.'.E.'.C.'.S.'.
Pela divindade do Uno, do Deus e da Deusa,
Ao Filho Divino, Vida, Saúde, Força e União!

Três Vezes Abençoado.