sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

-Bruxaria é uma Religião de Mistérios

{Deixando de lado a não-idoneidade iniciática e alguns equívocos de Mario Martinez, eliminados entre colchetes no texto, pois, afinal, o que o autor é ou não pouco nos importa, o que realmente nos interessa é que este texto em diversos aspectos expressa a falta de conhecimento entre uma grande massa de pessoas pagãs ecléticas que afirmam-se "bruxas" mas que, de fato, não o são. Não temos nenhuma ligação com Mario Martinez e desejamos apenas que as pessoas, principalmente de comunidades pagãs ecléticas e de comunidades leigas, sejam menos ignorantes quando o assunto é Bruxaria. Compreendido isso, adentramos à leitura!}.

Livro: "Wicca Gardneriana" Autor: Mario Martinez


"Wicca é uma religião de mistérios. E quando se diz isso, muita gente pula feito pipoca no fogo.  Não conseguem compreender o que isso representa, porque vivem na esfera dos pensamentos,  enquanto os mistérios estão fora da mente.  Religião nada tem a ver com pensamentos.  É por isso que no Oriente dizem que o mundo é uma ilusão. A mente é o mundo. É a sua casa,  onde você vive, o seu mundo. As pessoas vivem nos pensamentos,  nas fantasias,  imaginações.  Um mundo puramente mental. [...] No passado,  para se tornar um bruxo,  a pessoa precisava procurar alguém que fosse um mestre,  que pudesse puxá-lo para a realidade. A maioria das pessoas não compreende isso,  porque são totalmente defensivas,  resistentes. Elas erguem uma muralha ao seu redor,  devido ao medo.  Essa proteção afasta as pessoas da verdadeira sabedoria,  e o máximo que elas conseguem é acumular mais um pouco de conhecimento. Elas vão até um certo ponto do caminho, e então começam a se proteger,  se defender. 

Hoje não há mais a entrega, a abertura necessária para se tornar um verdadeiro bruxo. As pessoas querem andar sozinhas,  sem saber que isso se torna uma barreira para a sua entrega.  Elas pensam: “Para que se entregar a um mestre, qual a necessidade disso? Posso fazer tudo sozinho.” O ego adora tal ideia, porque se você permanece na esfera mental, não há ameaças,  não há nenhuma transformação. Desse modo,  a única coisa que as pessoas conseguem é se sentirem culpadas. Culpadas por não estarem crescendo, por continuarem as mesmas. Mas elas se julgam especiais, porque ouviram o chamado da Deusa (será?), e isso é apenas um novo truque da mente para torná-las novamente dóceis.  A idéia é a de que o desejo,  a ambição do poder é o combustível.  E se você acredita que pode tudo sozinho, isso é algo de muita ambição e egolatria.

“Inicie-se sozinho, você pode tudo”, e então vem a frustração ou a auto-enganação. Porque para criar a culpa, primeiro você precisa criar um ideal impossível, inatingível. E estão transformando a Wicca na mesma camisa de força das religiões ortodoxas, com seus modelos de santidade impossíveis de serem alcançados. Essa impossibilidade é tão gritante e ao mesmo tempo invisível, porque o ego das pessoas não pode ver. As pessoas são religiosas por medo ou ganância. Ninguém é religioso por amor e consciência.  Esse é um mecanismo muito antigo, e agora estão implantando isso na Wicca. Uma destruição. 

Todos pensam que podem alcançar as alturas,  mas se esquecem de que antes tem que descer às profundezas. Elas tem que descer às suas próprias profundezas, porque o verdadeiro é sempre invisível, como as raízes de uma árvore. Mas elas estão lá, porque se não estivessem a árvore morreria. E por que as raízes são invisíveis? Porque se não fossem seriam destruídas. Quando você destrói a fonte, a árvore se torna morta, não há possibilidade para ela. As raízes da Wicca tem sido destruídas, e a árvore está morrendo. E ninguém parece se importar,  porque para a maioria dos  “wiccanianos”, Wicca se tornou uma religião superficial,  porque se pode fazer tudo sozinho, sem um aprendizado verdadeiro. Mas a verdadeira religião é sempre oculta, esotérica, porque está nas profundezas. Caso contrário, não haveria crescimento verdadeiro.

Tudo que cresce está nas profundezas, oculto, como a semente no seio da terra, a criança no útero da mãe, a Deusa no âmago do ser. Mas as pessoas acreditam que podem fazer isso sozinhas, e então não chegam a parte alguma, porque é a mente que as impulsiona, a ambição de se tornarem sacerdotes, bruxos. As pessoas estão sempre do lado de fora, porque a mente é a superficialidade. É realmente uma lástima que se estimule essa visão deturpada de uma religião iniciática tão antiga. Mas os tempos são outros. Felizmente sabemos que os verdadeiros iniciados continuam a existir, ocultos da multidão. É isso que dá forças à antiga árvore para que continue vivendo."



Afinal de Contas: 
O Que é Seguir um Caminho Espiritual?

"Existe um ditado oriental que diz: “No começo as montanhas são só montanhas e os rios apenas rios;  ao entrarmos no caminho espiritual as montanhas não são mais montanhas e nem os rios são apenas rios;  quando despertamos no caminho espiritual, as montanhas são novamente montanhas e os rios apenas rios”. [...] Essa é a expectativa da mente ordinária: tornar-se extraordinária. [...] Mesmo no terreno da religião estão competindo.  Isso é pura ambição. As crianças são “educadas” para a competição, para a luta.  Toda noção de vida ocidental está voltada para a guerra, e os melhores são sempre os mais fortes, os mais astutos, os mais desonestos.  Quem se importa com os meios? 

[...] Essas pessoas não conseguem enxergar coisa alguma verdadeira, estão cegas, embriagadas pelo sistema,  loucas tentando manter suas máscaras de serenidade enquanto manipulam a realidade e tentam mostrar aos outros que não são pessoas comuns.  [...]. Todo o problema humano resume-se num simples ponto:  a mente humana é o problema. [...]  Entrar no caminho espiritual é começar a perceber que ficar repetindo as neuroses que foram ensinadas e condicionadas na mente é continuar transferindo a velha doença. Na verdade a compreensão surge do silêncio. O problema é mergulhar no silêncio, é despedaçar a velha mente e sua loucura. [...] .  Essas pessoas estão mergulhadas no barulho mental. [...]  Uma estória:

Um rapaz vinha dirigindo seu conversível vermelho novinho por uma estrada, quando numa curva passou por um carro desgovernado, dirigido por uma mulher. Ao passar por ele, a mulher gritou pela janela do carro:  “Porco!”  O rapaz imediatamente gritou em resposta:  “Vaca!”  Satisfeito por ter dado o troco, ele faz a curva em velocidade, e.....  atropelou um enorme porco no meio da estrada. 

[...] Tem muita gente que passa a vida discutindo, argumentando, contra-argumentando,  conquistando...  mas essas pessoas não são religiosas.  São somente acadêmicos posando de religiosos.  Religião não admite argumentação.  Religião é o que é. Essas pessoas usam a retórica como uma arma,  mas a única coisa que conseguem é permanecer na ignorância.  [...] Os leigos continuam discutindo, argumentando [...]. Eles mudaram os fundamentos da religião para atender às suas exigências particulares e pessoais, porque a mente dessa gente continua repetindo a loucura.

Eles não conseguiram relaxar no que é simples, eles não conseguiram entrar no silêncio e para eles só existe argumentação. [...] porque sua mente estará repetindo a velha neurose, tentando ser mais do que o mestre. O iniciado não está interessado em ser mais do que ninguém, ele está apenas mostrando o caminho certo, nada mais. [...] Porque é exatamente essa a diferença entre um iniciado e um auto-iniciado. O auto-iniciado está somente repetindo o que os outros disseram. Está só contando vacas alheias. Nenhum deles teve uma experiência espiritual legítima, real. Mas continuam esperando pela revelação da Deusa, porque  “Ela tem um plano para eles.”  

E assim, essas pessoas continuam sendo astutas com os outros,  mas somente conseguem enganar aos outros e a si mesmos.  [...]  É a velha ambição. Essas pessoas querem ser sacerdotes,  mas entrando pela janela.  Só que a grande questão existencial é muito diferente.  A grande questão não é saber se você encontrou a Deusa, se você encontrou o sacerdócio.  A grande questão é “Você se encontrou?” Ou então  “Quem sou eu?”  E essa questão só pode ser respondida no silêncio.

Nunca no tumulto da ambição de vir a ser alguma coisa, e muito menos de vir a ser alguma coisa por meios desonestos, por meio da violência. Sim, porque tentar quebrar o portão do sacerdócio e entrar por ele sem a atitude correta é pura violência.  É por isso que existem os mestres,  os sacerdotes.  Esse é o seu trabalho.  Ele não dirá e nem pode dizer o que sabe, mas ele certamente criará um modo pelo qual você possa florescer."